11. Zero, um e infinito: horizonte ou limite?

As ideias indubitáveis de eu, de duração vazia de conteúdo e de infinito seriam, ao mesmo tempo, condição de possibilidade de toda representação do mundo, e fundamento metafísico dos conceitos matemáticos de um, zero e infinito. Nesse caso, cabe a pergunta: há limites para o pensamento e, por consequência, para a linguagem? Ou, ao contrário, o que há é um horizonte sempre renovado por novos problemas e inquirições?

Eu prefiro acreditar – baseado no experimento metafísico que acabo de expor – que ali onde a linguagem corrente parece encontrar um limite, a matemática e a poesia abrem o caminho para que a linguagem volte a avançar.

Um exemplo desse processo é a descrição da Física Relativista. Entre O ABC da Relatividade, de Bertrand Russell, a primeira tentativa de descrever em linguagem corrente a revolução einsteniana, publicado em 1925, e os excelentes documentários facilmente encontráveis hoje em qualquer plataforma de streaming, não se passaram 100 anos. E o que parecia indizível incorporou-se à linguagem corrente.

Enfim, a máxima de Wittgenstein – “Sobre o que não se pode falar, deve-se calar” – só se perde por seu assertivo pessimismo: aos homens, só interessa aquilo para o que não há palavras – ainda.